Belo Monte :
petição do Cacique Raoni

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A sucessão do Cacique RAONI : Patxon Metuktire, “Os indígenas precisam de alternativas”

A sucessão do Cacique RAONI : Patxon Metuktire, “Os indígenas precisam de alternativas”

Patxon Metuktire auprès de son grand-père et mentor, le Cacique Raoni Metuktire

Uma nova geração de indígenas decidiu pegar em mão seu destino e não esperar, como pessoas condenadas no corredor da morte, que o rolo compressor do progresso venha esmaga-los. Esta geração de jovens Kayapó encontrou sua força no respeito que dedica ao famoso Cacique Raoni, símbolo universal da luta para a preservação da floresta amazônica e da cultura dos povos que vivem lá. Num artigo recente, nós demos a sua neta, a valente Mayalú Txucarramãe, a oportunidade de apresentar o Movimento Mebengokrê Nyre (Movimento Jovens Indígena) iniciado por ela. Este recente artigo teve grande sucesso e nós tomamos a iniciativa de continuar a dar de novo a palabra a Patxon Metuktire, que tambem faz parte desse movimento, depois de seu testemunho no julgamento que invalidou a licença da usina de Belo Monte. Estas reflexões pertinentes nos iluminam sobre de que modo a mocidade kayapo enfrenta seu próprio futuro, suas esperanças, os seus medos e os seus sonhos.

 


 

BGE. Indígenas precisam de alternativas - por Patxon Metuktire

Eu sou indígena da etnia kaiapó, sou jovem e tenho sonho de ser advogado, ser promotor. Também tenho sonho de ser contador. Ou outro profissional qualquer desde que seja importante para mim e para meu povo. Pois esses sonhos meus de ser profissional não é para um serviço no meio urbano ou mesmo para eu ser autônomo, assim como o fazem esses profissionais da cidade. Tenho sonho de ser esse profissional mas para ajudar meu povo indígena, tenho sonho de ser esse profissional para estar junto com meu povo. Defender a causa indígena diante dessa gente interesseira que utilizam as ferramentas politicas para aumentar os seus lucros e o valor de seus patrimônios. Este é meu interesse. Este sim é meu objetivo, a minha missão.

O IBGE divulgou, de fato, as informações em números de que estamos mais morando na cidade do que na aldeia. Para antropologia e políticos ruralistas ficaria a seguinte pergunta. Pra que tanta terra indígena no Brasil ? Se indígenas estão indo morar na cidade. Mas antes de responder a essa pergunta eu também faço uma outra pergunta. Que proposta tem o governo, Funai, universidades, doutores e demais gente das academias, para manter nos nas aldeias ? Pois vejamos que eu preciso monitorar minha terra, eu preciso responder. Eu preciso fiscalizar os recursos financeiros que o governo libera para uma assistência diferenciada. Eu preciso buscar alternativas para meu povo. Eu preciso entrar na justiça para exigir o meu direito.

Infelizmente tenho cultura diferente. Não tenho culpa de ser descendente de um povo que ainda em meio a pressões e evoluções econômicas, tecnológicas e culturais globais, mantem a cultura, a filosofia, a mitologia e a fé, bem como as crenças. Tenho minha cultura e meu pensar tradicional vivo dentro de mim. Bom o que essa gente, creio eu, que não sabe é que hoje em dia ninguém esta mais isolado. Precisamos acompanhar de perto o que se discute por ai nas casas de poderes políticos. Temos essa preocupação.

Eu tenho maior vontade do mundo de estar dentro da minha aldeia. Mas como a sociedade e toda essa gente que mencionei acima, garante que serei respeitado? Como essa gente garante que não sofrerei preconceito? Que não serei discriminado? Essa gente garante que minha área não será invadida ? Essa gente garante que recursos não serão desviados ? Essa gente garante que águas serão limpas ? Não terão barragens nos rios que prejudicarão o fluxo dos peixes, bem como a sua reprodução.

As escolas e universidades precisam atualizar os seus projetos de ensino pedagógico considerando a realidade que é bastante ignorado no nosso país. Preconceito, etnocentrismo. Precisa se ensinar o valor humano e não valores materiais. Pois em vez de formar pessoas boas, formam pessoa ignorantes.

Quero lembrar também que quando nos contataram, colocaram faca, machados, lanternas e pilhas (este poluentes) nas nossas mãos. Nos vestiram com roupas. Calças, camisas e bonés. Colocaram chinelo nos nossos pés. Agora ficamos dependente de tudo isso. Inclusive o dinheiro chegou até as comunidades. Não sabemos o que fazer.
Essa cultura econômica não é da nossa experiência cultural. Tal dependência se somando com a forte pressão e diminuição de terras indígenas e, em muitos casos, ainda não demarcadas, resultam em prostituição, alcoolismo, drogas e assassinatos. Jornalistas, antropologia e demais altos graduados sabem disso ? O Alexandre Garcia sabe como é uma cultura indígena ? O Alexandre Garcia sabe que nossa cultura e o nosso dia a dia, o nosso modo de pensar foi mudada para sempre ?

Atualmente precisamos de escolas de qualidade. Precisamos de professores altamente treinados, precisamos de gestores capacitados. Precisamos de profissionais de saúde. Precisamos de ter espaço nas universidades ou mesmo ter uma universidade indígena, específica para povos indígenas. Não somos mais isolados, mas temos culturas que precisamos manter por direito. Se não sempre seremos vistos como vagabundos, mendigos, preguiçosos. Sempre seremos vistos como pessoas bem protegidos por leis do país, o que na verdade não é. Sempre seremos vistos como pessoas bem apoiadas pelo governo. Seremos vistos como pessoas aposentadas pelo governo desde o nascimento.

Loucura de informações tolas que circulam por ai.

Alexandre venha nos visitar. E nos conheça primeiro. E não simplesmente procurar técnicos da funai que nem sempre sabem sobre nosso povo. Ou mesmo dar opinião sobre dados do IBGE.


Patxon Metuktire

Colider-MT, 17 de agosto de 2012

Date : 21/08/2012

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