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Perú: companhia petrolífera canadense ameaça a sobrevivência do “povo jaguar”

Perú: companhia petrolífera canadense ameaça a sobrevivência do “povo jaguar”

Menina do povo Matse, no Perú.

Fonte : theecologist.org
O governo peruano falhou outra vez em assegurar os direitos de seus cidadãos indígenas. Se levarmos em conta fatos anteriores, compreenderemos porque os Matsés temem tanto pela proteção deles como também pela das tribos vizinhas.

Dentro da floresta amazônica encontra-se o rio Yaquerana por onde passa a divisa do Peru com o Brasil. Mas para os Matsés que vivem de cada lado do rio, essa fronteira internacional que se encontra no território ancestral deles é só poeira diante dos rios, das várzeas alagadas e das florestas sobre areia branca.

Hoje, essas terras correm perigo por causa de uma companhia petrolífera canadense que quer instalar vários quilômetros de linhas sísmicas através da floresta e furar poços exploratórios.

Quase 2200 Matsés moram na floresta amazônica na fronteira entre o Peru e o Brasil. Eles caçam, pescam, cultivam roça e importam pouca coisa de fora, a maior parte do que precisam é extraída da floresta amazônica. Esses povos vivem à beira do rio e, cada manhã, antes de irem para escola, as crianças vão com os pais pescar o peixe do dia.

Os homens da tribo caçam animais como o tapir e a paca - um grande roedor - com arcos e flechas, armadilhas e armas de fogo. Para aumentar a coragem e a eficácia da caça deles, os Matsés recorrem a uma substância segregada por uma rã arborícola verde chamada « acate ».

Os homens recolhem esse líquido esfregando a pele da rã com um pedaço de pau, depois o aplicam na pele do destinatário em pequenos furos feitos por queimadura. Náuseas e desmaios são rapidamente substituídos por uma sensação de lucidez e de força que pode durar vários dias.

Outro procedimento para desenvolver força e coragem é inalar o tabaco “nenê”.

No fim do expediente de aulas, os pais levam os filhos para a roça onde os ensinam a cultivar o sustento. Os Matsés produzem grande variedade de plantas, dentre as quais alimentos básicos como banana e mandioca. Com a banana plantain preparam a bebida chamada “chapo”: quando a fruta está madura, as mulheres a cozinham, depois passam a polpa macia numa peneira de folhas de palmeira trançadas. A bebida é então servida quente e tomada ao redor do fogo.

Os Matsés sobrevivem principalmente dos recursos da terra e da floresta. “A gente não come alimentos industriais, a gente não compra nada. É por isso que precisamos de espaço para tirar o nosso sustento” explica um membro da tribo Matsés para um militante do Survival International, organização que luta pelos direitos dos povos indígenas.

 

O “povo do jaguar”

Com a tribo vizinha Matis, os Matsés são conhecidos como o “povo do jaguar” em razão de suas tatuagens e suas pinturas faciais parecidas com dentes e bigodes da onça.

Em 1969, missionários americanos do Instituto Linguístico do Verão (Summer Institute of Linguistic) entraram pela primeira vez em contato com os Matsés. Chegaram logo após violentos conflitos entre colonos locais - que desejavam passar uma estrada no território Matsé – e índios que defendiam suas terras. Os colonos ameaçavam matar os matsés com bombas e gazes tóxicos jogados do céu. As violências aumentaram mais ainda quando os colonos ocuparam a casa da comunidade Matsé e içaram a bandeira peruana.

Os Matsés preservaram a maior parte do conhecimento das plantas medicinais e da medicina tradicional ímpar deles. Os curandeiros dominam o uso de plantas da floresta e de suas virtudes terapêuticas. Para os Matsés, as plantas e os animais são, como os seres humanos, dotados de espírito que tanto pode curar como enfraquecer o corpo. Primeiro, o curandeiro localiza a causa da doença, depois trata o paciente com a planta adequada. No entanto, os contatos com o mundo exterior trouxeram doenças graves, como a malária, que a medicina dos Matsés não sabe curar.

 

Ameaça petrolífera

Em 2012, a companhia petrolífera canadense Pacific Rubiales começou a explorar novos jazigos nas terras ancestrais dos Matsés. Esse projeto avaliado em quase 28 milhões de euros, vai conduzir à abertura de centenas de linhas sísmicas numa área de 700 quilômetros quadrados de floresta e o furo de poços exploratórios que vão contaminar as fontes dos três grandes rios dos quais dependem os Matsés.

Os Matsés, além de estarem preocupados pelo futuro da floresta, temem também por sua própria sobrevivência. Numa rara entrevista com Survival International, afirmou Antonina Duni Goya Nesho, uma mulher Matsés:

“O petróleo vai contaminar as fontes dos nossos rios. O que vai acontecer com os peixes? Que água vão beber os animais?”

Apesar da oposição, várias vezes repetida, contra as atividades da companhia na terra deles, os Matsés foram sistematicamente ignorados. Em março 2013, centenas de Matsés do Perú e do Brasil manifestaram na fronteira pedindo aos governos respectivos o fim da exploração petrolífera que destrói a floresta. “O mundo inteiro deve saber que os Matsés estao firmemente contra as atividades da companhia petrolífera. Recusamos a invasão de nossas terras!”, declarou um homem Matsés.

 

Indígenas isolados

Além de suas próprias apreensões, os Matsés também estão preocupados com grupos vizinhos que vivem no Peru e no Brasil. A expressão “tribos isoladas” nomeia povos desprovidos de contato pacífico com a sociedade. Existiriam hoje cerca de 100 tribos isoladas no mundo.

Os grupos isolados da floresta amazônica herdaram de um passado trágico: a maioria deles descende de sobreviventes da febre da borracha que se alastrou em toda a Amazônia no inicio do século XX. Milhares de seringueiros se espalharam nos cantos mais afastados da região amazônica, onde viviam dezenas de milhares de indígenas. A escravidão e a propagação de doenças contra as quais estes últimos não eram imunizados tiveram graves consequências. Em poucos anos, 90% da população indígena foi assassinada ou desapareceu devido a epidemias. Esse passado deixou uma marca indelével na memória coletiva dos sobreviventes, razão pela qual eles evitam o contato com o mundo exterior.

Há pouco tempo, as epidemias ainda matavam os que aceitavam estabelecer contato. No Peru, cerca de 50% da tribo Nahua, até então isolada, foi exterminada na ocasião da exploração petrolífera na terra deles no início da década de 80. Na década de 90, a tragédia se repetiu com os Murunahuas que foram devastados após um contato forçado com madeireiros clandestinos que buscavam mahogany.

“Os povos isolados se movem de um lugar para o outro, fogem quando avistam um homem branco”, disse um Matsés. “Quando ouvem alguém chegar, apagam os rastos dos passos com folhas e varas. Mas sei que estão por aí, posso o garantir.”

Durante a década de 90, quando os madeireiros investiram o território Matsés, os indígenas isolados foram embora da região. Mas os Matsés asseguraram que já voltaram. Hoje, eles temem que a companhia petrolífera os force a ir embora de novo.

O bloco “135” da companhia canadense foi construído exatamente no local previsto para implantar uma reserva de proteção das tribos isoladas no lado peruano. A atividade petrolífera vai ter também impactos do outro lado da fronteira na bacia brasileira do Javari onde estão várias tribos isoladas.

 

Como ajudar os Matsés?

Apesar da promessa de garantir os direitos dos indígenas, o governo peruano autorizou a Pacific Rubiales a prosseguir no projeto, violando assim a legislação internacional.

“Enviamos uma carta ao governo manifestando a nossa oposição à companhia petrolífera, mas não recebemos resposta alguma”, declarou Antonina Duni Goya Nesho.

“Essa terra é nossa, foi aqui que nascemos. Nossos chefes já combateram por ela várias vezes o governo. Ou são surdos, ou não respeitam a gente.”

Para ajudar os Matsés a preservar suas terras e a garantir o futuro deles, envie um e-mail para o presidente da Pacific Rubiales via o site de Survival International pedindo-lhe que saia desse território antes que a vida dos indígenas seja destruída. Você também pode escrever para o presidente peruano Ollanta Humala pedindo-lhe para anular o contrato assinado com a Pacific Rubiales. 

Sarah Gilbertz é assessora de imprensa da Survival International 


© theecologist.org / traduzido por Isabelle Gabourg & Arkan Simaan : artigo original

Date : 13/05/2013

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