Belo Monte :
petição do Cacique Raoni

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O Cacique RAONI encontra os leitores do jornal “METRO” em Paris: “Proteger a floresta seria bom para o futuro”

O Cacique RAONI encontra os leitores do jornal “METRO” em Paris: “Proteger a floresta seria bom para o futuro”

O Cacique RAONI encontra os leitores do jornal “METRO” em Paris: “Proteger a floresta seria bom para o futuro”

Um artigo de : Métro (Françia)
FRENTE AOS LEITORES DO JORNAL “METRO” – Durante a sua turnê européia, o cacique kayapó Raoni Mektutire veio ao encontro do jornal “Metro”. Ele evocou os seus combates contra o desmatamento, a construção da barragem de Belo Monte e a preservação das terras indígenas.

Em 1989, o cacique Raoni tinha efetuado uma turnê mundial com o cantor Sting para alertar sobre a destruição da floresta amazônica. Ele lutou em primeira linha  contra a construção da barragem gigante de Belo Monte no rio Xingu. Hoje, com 82 anos, ele retorna à França e para a Europa para completar o seu combate contra a apropriação de suas terras. Acompanhado de seu sobrinho e de seu neto, o chefe kayapó respondeu segunda-feira às perguntas de quatro leitores de Metro.
Caroline, 36 anos, documentalista:
O Senhor iniciou um combate há mais de trinta anos. Como se encontra hoje?

Cacique Raoni: Combati muito e continuo preocupado com o desmatamento da floresta amazônica. Eu retornei aqui para transmitir a minha preocupação e falar novamente sobre a demarcação das nossas terras: enquanto não tiver conseguido delimitar esta zona, onde vivem os Indios, não estarei tranquilo. O território de Khapot-Nhinore, onde estão enterrados os nossos antepassados, não está integrado às nossas terras.
Com todos os governos brasileiros precedentes, podiamos falar dos nossos problemas, mas o último (Dilma Roussef) não o permite: tenho acesso apenas aos seus ministros. Pedimo-lhes que não apliquem a portaria 303 que permite ao governo de fazer trabalhos, construir barragens ou estradas e explorar minas nas terras indígenas sem consultar os indios.

Chloé, 25 ans, atriz:
O senhor escolheu um sucessor?

Cacique Raoni : Há muito tempo que luto, seguindo as orientações do meu pai, para que os indios respeitem os brancos, e os brancos os indios. Eu trabalho já faz muito tempo com o meu sobrinho Megaron. Passo a retransmissão à ele, e ao meu neto Bemoro, para que eles continuem a defender o meu povo e a preservar a floresta.

Cyril, 43 anos, técnico em telecomunicação:
Como é financiada a sua luta?

Cacique Raoni : Às vezes, recebo ajuda do exterior: ONGs trazem fundos para apoiar a nossa luta, dos Estados Unidos, do Japão, daqui mesmo na Europa. Mas retornamos aqui para levantar novamente fundos (via www.raoni.com) porque este combate é custoso.

Cyril: A crise econômica reduz estes dons?

Cacique Megaron: o meu tio Raoni não pode responder à esta pergunta porque não sabe o que é uma crise! Mas observa-se que as ONGs se encontram com falta de meios para ajudar-nos. Por exemplo, queremos reunir todos os chefes indígenas para produzir um documento geral para que o governo nos respeite, mas moramos muito longe uns dos outros.

Chloé: Grandes personalidades (Sting, o Príncipe Charles, Nicolas Hulot, James Cameron) apóiam a sua ação. Mas como eles o ajudam além da imagem?

Cacique Raoni : A primeira vez que viemos para a França, Sting e eu encontramos François Mitterrand para falar da demarcação das terras indígenas. Ele nos ajudou, aquilo foi feito. Retornei a falar com Chirac e ainda esta vez com François Hollande. Ele me assegurou que nos ajudaria. Agora são vocês que deverão exigir que ele o faça porque eu não poderei permanecer aqui o tempo todo.

Stéphane, 51 anos, arquiteto:
Grandes grupos industriais cobiçam os seus territórios (como Alstom, que investe na barragem de Belo Monte). Voçês sentem pressões vindo da parte deles?

Cacique Raoni : Estou muito inquieto deste “progresso” ao nome do qual estão sendo feito grandes desmatamentos, as estradas, as barragens. As grandes empresas não fazem pressão sobre nós mas sobre o governo e o Parlamento. Eles querem alterar a constituição que dá direitos às terras indígenas.

Cyril: Como fazer compreender que vale mais preservar a floresta do que explorá-la?

Cacique Raoni : É pena que o mundo inteiro não possa ver a nossa floresta. Nós, os índios, nunca esgotamos a natureza assim como faz o branco. No entanto, proteger a floresta seria bom para o futuro: há muita medicina tradicional por exemplo, que podemos utilizar, enquanto que cortar as árvores para plantar soja ou criar gado, estraga a floresta.

Chloé: Quantos voçes são e como voçes vivem?

Cacique Raoni : Isso depende das etnias. Nós, Kayapós, temos vários grandes territórios. Não há cálculo oficial, mas somos cerca de 7.000. Os homens caçam e pescam. As mulheres fazem a colheta. Além de trabalhar, organizamos também festas tradicionais onde se dança e se canta.

Chloé: Mas alguns falam o português, vão à escola?

Cacique Megaron: O primeiro a encontrar Brancos e a aprender português foi o meu tio Raoni, e depois fui eu, quando tinha 14 anos. Agora, existem escolas. Também ajudei várias crianças a estudar na cidade. Aprenderam a ler e a escrever, utilizar as novas tecnologias e retornam em seguida trabalhar nas aldeias. Muitos índios sabem utilizar Internet. O meu filho ou a minha filha podem contatar o mundo inteiro.

Bemoro Metuktire (neto de Raoni): Nós podemos evocar os nossos combates na Internet. Graças ao tradutor Google, alguns acreditam até que falo francês !

Caroline: Voçes chegam em Paris justamente antes de Natal, em um ambiente de consumo excessivo. Como voçes ressentem o nosso modo de vida?

Cacique Raoni : Essas são as tradições de vocês. Nós não temos estes costumes, por tanto eu não me ocupo disso. Eu também, na minha aldeia, quando chega uma festa, sou obrigado a correr por toda parte. É necessário alimento, decorações. É sempre igual quando há festas, mobilizamo-nos para pequenas coisas.


© Metro (traduzido por Karina Gaia) : relação para o artigo original

Raoni Metuktire nas salas de Metro com o seu sobrinho, Megaron Txocarramae (à es.), e o seu neto, Bemoro Metuktire (à Dr.), que tomarão a sua sucessão. Fotografia: Zoe Ducournau/Metro

O cacique Raoni e os dois chefes que o acompanham responderam às perguntas dos nossos leitores. Da esquerda para a direita, Chloé, Cyril, Caroline e Stéphane. Fotografia: Zoé Ducournau/Metro

Date : 03/12/2012

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